quarta-feira, 31 de julho de 2013

Afrocarpus mannii (Hook.) C.N. Page

Nome vulgar: Pinheiro de São Tomé

Trata-se de uma gimnospérmica pertencente à família Podocarpaceae Endl. É uma planta endémica da ilha de São Tomé, no golfo da Guiné, ocorrendo espontaneamente a altitudes entre os 1300 e os 2400 m. Pode atingir 20 a 25 metros de altura e dos seus troncos destacam-se tiras ou flocos geralmente cobertas por musgos. Apresenta um estatuto de conservação elevado a nível mundial, a IUCN (International Union for Conservation of Nature) atribui-lhe o estatuto de “Vulnerável” visto ocupar uma área muito restrita mesmo no interior da ilha de São Tomé no Parque Natural D’Ôbo.

A existência de espécimes de Afrocarpus mannii em jardins Botânicos é de extrema importância, pois as poucas populações da ilha podem ser destruídas por qualquer catástrofe natural, como erupções vulcânicas ou alvo de outros impactos. Podemos assim reintroduzir a espécie no seu local de origem.

Mais informações: TropicosArkive



Localização no Jardim


Imagens da espécie no Jardim:














Localização no seu habitat natural

Imagens da espécie no seu habitat natural:







segunda-feira, 29 de julho de 2013

Euphorbia canariensis L.

Nome vulgar nas ilhas Canárias: “Cardón”

Planta suculenta da família das Euphorbiaceae Juss., endémica do arquipélago das Canárias, existente em todas as ilhas com exceção de Lanzarote até a uma cota de 1000 m. Pode atingir 5 m de altura, sendo uma espécie que molda de forma significativa a paisagem deste arquipélago. O látex (uma secreção de tonalidade branca) é extremamente venenoso, era utilizada pelos povos ancestrais (Guanches*) para pescar em charcos e como purgante, no entanto, em períodos de maior secura retiravam a parte venenosa e alimentavam-se do interior da planta bastante rica em água.
*Povos ancestrais do arquipélago das Canárias que resistiram à colonização das ilhas pelos europeus. Segundo diferentes autores, têm a sua origem na costa Africana, não muito distante, apresentavam idiomas distintos, práticas religiosas e outros traços culturais também distintos. Foram dominados nos finais do século XV.

Esta planta pode ser observada no Jardim Botânico



Mais informações: Trópicos


Imagens no Jardim Botânico:






Imagens no seu habitat natural, na ilha de Tenerife








Imagens no seu habitat natural, na ilha da Gran Canária









sábado, 27 de julho de 2013

Flores e polinizadores I


A variedade de formas, cores, tamanhos e aromas das flores são adaptações desenvolvidas pelas plantas em resposta aos polinizadores disponíveis. Cada morfologia reflecte a estratégia vencedora, aquela que teve mais sucesso no transporte de pólen pelos respectivos vectores.

 
A posição dos estames quase sempre permite adivinhar o tipo de polinizador. Estames muito salientes como se encontram nos carvalhos (Quercus sp.) e na tanchagem maior (Plantago major), podem indicar que o vento é o polinizador enquanto estames mais curtos indicam outro tipo de polinizador, que irá pousar e deslocar-se para dentro da flor. Esta última associação entre plantas e polinizadores, construída no longo caminho da evolução, uma co-evolução, baseia-se no mutualismo. As plantas beneficiam porque o pólen é transportado de flor em flor e os polinizadores são recompensados com pólen e /ou néctar presentes nas flores visitadas. 

                               Quercus sp.                                                   Plantago major 

A flor das chagas, Tropaeolum majus, apresenta marcas em algumas pétalas e um esporão que se desenvolve a partir do pedúnculo. Na região de origem, a planta é polinizada por ‘colibris’, cujos bicos se introduzem no esporão para alcançar o cobiçado néctar.


Pelo contrário, existem flores que exalam outro tipo de odores, em algumas lembrando carne putrefacta. Nas espécies de Stapelia (1) e Aristolochia (2), os vectores de polinização são moscas, atraídas pelo cheiro nauseabundo. Mesmo a cor da corola mimetiza a cor da carne. 
(I. Melo)

                    (1)                                                      (2)




sexta-feira, 26 de julho de 2013

A inauguração da lápide comemorativa ao Conde de Ficalho (1978)


Amanhã, sábado 27 de Julho, celebram-se os 176 anos do nascimento de Francisco Manuel de Melo Breyner, Conde de Ficalho, altíssimo vulto da vida e cultura portuguesa da segunda metade do século XIX e pai fundador do Jardim Botânico da Escola Politécnica.

Por esta ocasião, o MUHNAC presta homenagem ao fundador do seu Jardim Botânico, recordando a cerimónia de inauguração da lápide comemorativa ao mesmo, ocorrida em 1978 aquando das celebrações do Centenário do Jardim.


A Marquesa de Ficalho descerrando a lápide 
(@ José Cardoso, MUHNAC - Arquivo)



Discurso do Professor José Pinto Lopes (1915-1981), Director do Jardim, durante a cerimónia comemorativa
(@ José Cardoso, MUHNAC - Arquivo)


Discurso do Professor José Pinto Lopes (1915-1981), Director do Jardim, durante a cerimónia comemorativa

(@ José Cardoso, MUHNAC - Arquivo)



Hovenia dulcis

Hovenia dulcis Thunb., conhecida vulgarmente por cajú japonês, é uma planta originária da Ásia que pode tornar-se uma verdadeira praga quando cultivada em países tropicais como, por exemplo, o Brasil.
Árvore da família das Ramnáceas, de pequeno porte, tem umas folhas ovadas, caducas, e umas flores pequeninas, brancas, dispostas em cachos. Como particularidade, na altura da frutificação, que no nosso país ocorre no inverno, os pedúnculos tornam-se carnudos e aclavados, cheios de substâncias de reserva, muito doces, suportando cápsulas minúsculas, que encerram 2 a 3 sementes. Os cachos maduros destacam-se pela base do eixo principal e caem no solo.

Aqui no Jardim, não é cultivada por ser comestível, mas para mostrar esta particularidade, que torna esta planta única em relação às outras espécies.




                                                                          pedúnculos de Hovenia

Os homens do Botânico (2): Francisco Manuel de Melo Breyner, Conde de Ficalho (1837-1903)

Amanhã, sábado 27 de Julho, celebram-se os 176 anos do nascimento de Francisco Manuel de Melo Breyner, Conde de Ficalho, altíssimo vulto da vida e cultura portuguesa da segunda metade do século XIX e pai fundador do Jardim Botânico da Escola Politécnica.


Francisco Manuel de Melo Breyner nasceu a 27 de Julho de 1837, em Lisboa, no Palácio da Rua Direita das Janelas Verdes, pertença dos seus ilustres antepassados. Da mais alta aristocracia do seu tempo, era filho dos 2.º Marqueses e 3.º Condes de Ficalho. Do círculo restrito da Corte (viria a ser Mordomo do Casa Real), era amigo íntimo dos Príncipes D. Pedro (com quem partilhava a mesma idade) e D. Luís, tendo-os acompanhando nas suas viagens de instrução pela Europa, em 1854 e 1855, visitando nelas Inglaterra, a Bélgica, a Holanda, França, Itália e as principais cortes alemãs. Além dos diversos cargos que viria a exercer como Par do Reino (1882), Conselheiro de Estado efectivo (1893), Embaixador Extraordinário em diversas ocasiões (como em 1896, na corte de São Petersburgo), distinguiu-se sobretudo como homem de letras e escritor, botânico apaixonado e professor emérito do Instituto Agrícola e da Escola Politécnica de Lisboa.  
Em 1855, concluiu no Instituto Maynense, na Academia Real das Ciências de Lisboa, os preparatórios necessários à sua entrada na Escola Politécnica, com destino a tirar o curso geral deste estabelecimento que terminou em 1860, premiado em quase todas as cadeiras. Desde Janeiro de 1858, achava-se vago o lugar de lente substituto da 9ª cadeira, por virtude do falecimento de José Maria Grande (1799-1857). Francisco Manuel de Melo prestou provas, vencendo o concurso e, com menos de 24 anos, em Janeiro de 1861, seria nomeado lente substituto de Botânica, ascendendo a catedrático, perto de vinte e nove anos mais tarde.
Foi no âmbito desta sua actividade lectiva que Francisco Manuel de Melo impulsionou e orientou a construção de um Jardim Botânico na cerca da Escola Politécnica, previsto desde 1840, e destinado a substituir pedagogicamente o Jardim Botânico da Ajuda, demasiado longe. Grandes esforços já tinham sido empreendidos nesse sentido com José Maria Grande, a partir de 1840, e João de Andrade e Corvo (1824-1890), desde 1844, mas pouco se tinha conseguido até então, devido ao grande incêndio, ocorrido em 1843, que destruíra o antigo Colégio dos Nobres que albergava a Politécnica, canalizando-se energias e financiamento, a partir dessa data, para a reconstrução do edifício principal. Tinha-se iniciado, em 1859, a terraplanagem da cerca para preparar o futuro jardim mas, em 1861, aquando da tomada de posse da cadeira por Ficalho, as obras estavam longe de estarem concluídas.
Francisco Manuel de Melo empenhou-se, de forma incansável, na prossecução do seu objectivo e na obtenção de financiamento para a sua concretização. Quase concluído o novo edifício, em 27 de Janeiro de 1873, escrevia ao Director interino da Politécnica, considerando o momento oportuno, para se iniciar a criação do Jardim e propunha a ampliação do empréstimo projectado para acabamento do edifício com a finalidade de se obterem as verbas necessárias ao futuro Jardim. Com estas, conseguiu logo a contratação de Edmund Goeze (1838-1929) que viria a estar na origem do desenho e construção da parte de sistemática botânica, no plano superior do Jardim. Goeze, ilustre botânico e bem conhecido em Portugal, havia sido contratado, em 1866, para o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra e tinha sido emissário do governo português junto do governo britânico no processo de recuperação das colecções angolanas coligidas por Friedrich Welwitsch (1806-1834). A Ficalho se deve ainda, em grande parte, a escolha das plantas e árvores para o Jardim, envolvendo-se pessoalmente na selecção e nas transplantações das espécies provenientes do Jardim Botânico da Ajuda para o novo horto da Politécnica. Foi ainda responsável pelos primeiros contactos para encetar relações científicas com estabelecimentos similares estrangeiros, entre os quais os Jardins de Kew e de Berlim, recebendo e enviando exemplares de herbário, sementes e plantas.
Em 1876, Goeze retirar-se-ia para a Alemanha. Foi de novo o Conde de Ficalho que procurou pessoalmente indicação de pessoa competente para Jardineiro da Politécnica, vindo a recair a escolha no botânico francês Jules Daveau que trabalharia no Jardim, entre 1876 e 1892. A relação entre Ficalho e Daveau seria sempre de grande proximidade e cumplicidade, nomeadamente no arranjo do arboreto, na parte inferior do Jardim. Em 10 de Maio de 1879, Francisco Manuel de Melo, após ter findado o primeiro contracto do jardineiro, propôs de imediato a renovação do contrato, por mais três anos, com aumento do ordenado para 800$000 réis anuais. Em 1884, as novas plantações progrediam com rapidez mas as verbas para a sua continuação iam escasseando, exigindo de Ficalho esforços permanentes junto da Direcção da Escola para o aumento de verbas. Protector incansável do Jardim, Ficalho trabalhou afincadamente no aumento e melhoria do Jardim, sendo exemplo deste seu empenho, a veemência das exigências feitas à Companhia Real dos Caminhos de Ferro, na sequência da abertura de um poço no Jardim para a construção do túnel do Rossio. Os prejuízos causados ao Jardim e a não reposição das terras removidas levaram Ficalho a exigir indemnizações financeiras e a construção de um lago, na parte de baixo do jardim.
Num campo estritamente científico, como naturalista, dedicou-se ainda o Conde de Ficalho ao já referido estudo do herbário africano, colhido em missão oficial do governo português, por Welwitsch. Fê-lo conjuntamente com William Hiern (1835-1929), de quem foi amigo íntimo e com o qual viria a publicar em conjunto, em 1881, nas Transactions da Sociedade Linneana de Londres, uma memória intitulada On Central Africa Plants collected by Major Serpa Pinto. Das suas obras botânicas, destacam-se ainda a Flora dos Lusíadas (1880); Memória da Malagueta (1883), Garcia de Orta e o seu Tempo (1886), que serviu de preparação à publicação dos dois volumes dos Colóquios dos Simples e Drogas da Índia (1891 e 1895).
Faleceu em Lisboa, em 19 de Abril de 1903.


Para saber mais:
Burnay, Eduardo, Elogio Histórico do Conde de Ficalho, Lisboa, Typographia da Academia Real das Ciências, 1906.
Palhinha, Rui Teles, Esboço Biográfico do Conde de Ficalho no Cinquentenário do seu passamento, Lisboa, Academia das Ciências, 1953.
Tavares, Carlos Neves, Jardim Botânico da Faculdade de Ciência de Lisboa, Porto, Imprensa Portuguesa, 1967


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Coleções do Jardim


O Jardim Botânico para além da coleção viva, que pode ser observada por todos aqueles que o visitam, preserva ainda exemplares conservados em herbários (coleções de plantas secas) e banco de sementes cujo acesso, por motivos de conservação, é restrito a quem os estuda. Estas coleções, que somam mais de 200 000 exemplares, constituem uma base de referência reconhecida a nível mundial, e são o resultado e o suporte da maior parte da investigação desenvolvida no jardim.
Os dados relativos aos exemplares de herbário são muitos importantes porque permitem a elaboração de mapas de distribuição de espécies, a selecção de áreas com importância para a conservação e o estudo das alterações climáticas,  entre outros.


                 Exemplar do género Agaricus (herbário de fungos) colhido em Portugal em 1918



Exemplar de Scirpus angolensis C.B.Clarke (herbário de fanerogamia) colhido por F. Welwitsch em Angola no séc. XIX



Plantas Carnívoras ou Insectívoras

Diferentes espécies de plantas desenvolveram estratégias para usufruírem de um complemento nutritivo. A grande maioria destas plantas vivem em solos ácidos turfosos, pobres em nutrientes, formados pela deposição de diferentes espécies de esfagnos (musgos do género Sphagnum spp. com cerca de 20 espécies em Portugal Continental). Estas espécies de plantas carnívoras podem ser encontrados a altitude elevada como na Serra da Estrela, Gerês, Freita, etc. mas também a cotas mais baixas, como no sopé da Serra de Sintra, Ourém, Leiria, região de Troia, entre outros locais, onde dominam estes solos, especialmente com Sphagnum auriculatum Schimp. de distribuição mais ampla. Podemos encontrar assim diferentes espécies carnívoras de diferentes géneros e com uma enorme variedade de armadilhas no nosso país, pertencentes aos géneros Drosera L, Utricularia L., Drosophyllum Link e Pinguicula L. Muitas destas espécies estão ameaçadas porque os seus habitats apesar de protegidos a nível comunitário estão em perigo eminente devido a drenagens, sobretudo para a agricultura e também para a plantação de matas de produção de eucalipto. Muitos espécimes depositados em herbário pertencem a locais que foram completamente arrasados e são como um registo histórico das condições que existia naquele local numa determinada data.

O MUHNAC (Museu Nacional de História Natural e da Ciência) apresenta uma exposição ao público onde podemos observar algumas destas espécies de plantas carnívoras pertencentes a diferentes géneros como Drosera L, Utricularia L, Sarracenia L., Heliamphora Benth., e muitos exemplares de Dionaea muscipula J. Ellis com as suas famosas armadilhas.

Algumas plantas da exposição:













Algumas plantas que podem ser observadas em Parques Naturais em Portugal Continental:







Localização no MUHNAC :


Os musgos do carvalhal português | Ciência Viva no verão 2013

Os briófitos (musgos, hepáticas e antóceros) desempenham um papel muito importante nos ecossistemas, são considerados bons indicadores da qualidade dos habitats e da sua funcionalidade ecológica. Criam condições para a acumulação de húmus, estabilização do solo, para a fixação e germinação de sementes, servindo de alimento e protecção para diversas espécies de animais.
Estes organismos podem ser encontrados numa infinidade de ecossistemas do árctico ao antárctico, como desertos, no cume de montanhas, em florestas, entre outros habitats. Podem desenvolver-se sobre solo, rochas, árvores, na água, em grutas ou em substratos artificiais, como telhados e muros.
O objetivo desta ação é a observação da diversidade destes organismos na região de Casével, local da maior população conhecida em Portugal de Zygodon forsteri (Dicks. ex With.) Mitt. uma espécie da lista vermelha Portuguesa e de muitos países (fotografia da população: http://www.arkive.org/knothole-moss/zygodon-forsteri/image-A23700.html). Vão ser observadas diferentes espécies de briófitos e outros organismos (líquenes, fetos, arbustos e árvores) nos seus habitats onde o participante da acção vai descobrir um mundo diferente a uma escala mais pequena que passa muitas vezes despercebido.

Data: 17 DE AGOSTO


Itinerário: Percurso em Casével, numa região de carvalhal.
Local e hora de encontro: Em frente à capela de Santo António, Casével, 17 de Agosto, 9 horas Latitude: 39.391041°; Longitude: 8.589711° - 39°23'27.75"N; 8°35'22.96"W
Indicações especiais: Vestuário e calçado confortável adequado à estação do ano.
Concelho: Santarém
Duração máxima: 2h 30 m
Número máximo de participantes: 35
Inscrição prévia obrigatória
 

 

terça-feira, 23 de julho de 2013

Os homens do Botânico (1): Jules Daveau (1852-1929)


Jules Daveau (1852-1929)

O desenho e organização do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa deve-se ao trabalho, esforço, dedicação e génio das sucessivas gerações de botânicos e jardineiros que nele laboraram. Um dos seus pais fundadores foi o Jardineiro-chefe Jules Daveau (1852-1929), botânico francês, contratado em 1876 pela Escola Politécnica, a pedido Francisco Manuel Melo Breyner (1837-1903), Conde de Ficalho, então Director interino do Jardim. Precedera Daveau no ofício o alemão Edmund Goeze (1838-1929) que, apenas dois anos, esteve ao serviço, devendo-se-lhe o arranjo sistemático do tabuleiro superior.
Nascido em Argenteuil, perto de Paris, em 29 de Fevereiro de 1852, Daveau iniciou-se muito jovem na botânica. Com apenas 14 anos, saído da Escola Turgot, entrou como Aprendiz-Jardineiro no Museu de História Natural de Paris. Aí tornou-se aluno e discípulo, entre outros, de Alexandre Brongniart (1770-1847) e Joseph Decaisne (1807-1882), dois dos mais conceituados botânicos da época. Em 1872, Daveau era promovido a Chefe do Laboratório de Sementes e do Jardim das Experiências do Museu, dedicando-se à procura das melhores condições naturais para o desenvolvimento das espécies. No exercício das suas funções, chefiou várias viagens exploratórias, nomeadamente em 1875, à antiga Cirenaica (actual Líbia), trazendo consigo numerosas plantas de herbário e sementes de que se originaram plantas que trouxeram à florística numerosas espécies novas. A sua actividade no Laboratório conferiu-lhe fama e reconhecimento que rapidamente ultrapassaram os limites da comunidade científica francesa.
Data de 16 de Dezembro de 1876 o contrato assinado com a Escola Politécnica. Firmado inicialmente apenas por dois anos, com o ordenado de 720$000 réis anuais, 90$000 réis para despesas de viagem e casa para habitação, viria a ser sucessivamente renovado até 1892, data em que regressou a França. No período que decorreu entre 1876 e 1892, Daveau contribuiu para a conclusão e melhoria do Jardim Botânico (iniciado em 1873) concentrando-se principalmente na sua parte inferior. É a ele que se deve a extensão da dimensão do jardim para uma área próxima da actual, o traçado da dita ‘rua das palmeiras’, a organização do arboreto, o respectivo sistema de rega e o desenho dos lagos, riachos e cascatas. É ainda a Daveau que se deve o enriquecimento constante das colecções vivas e de sementes, com o fomento de trocas sistemáticas de sementes e plantas com museus e jardins botânicos estrangeiros, desde Inglaterra, Alemanha, Itália até à Nova Zelândia, Austrália, Japão e China. O Conde de Ficalho propôs, ainda, que Daveau pudesse ser encarregado de explorações botânicas, acompanhando alunos e coligindo plantas para os herbários, de que também foi incumbido, tornando-se responsável pela sua organização inicial. Em 1878, todo este esforço resultaria na organização e publicação do primeiro Index Seminum do Jardim. O número de táxones, na quase totalidade espécies, era de 1559, na maioria plantas cultivadas sobre plantas indígenas. No Index de 1880, o número subiria para 2346.
Paralelamente à sua chefia do Jardim, Daveau trabalhou afincadamente no estudo da flora de Portugal, publicando durante a sua estadia em Lisboa inúmeros trabalhos, entre os quais avultam: Notes phytostatiques — Aperçu sur la végétation de l'Alemtejo et de l'Algarve (Lisboa, 1881); Excursion aux îles Berlengas et Farilhoes (Lisboa, 1884); Sur quelques espèces critiques de la flore portugaise (Paris, 1890) e ainda Géographie botanique du Portugal. La flore des plaines et collines voisines du littoral (Lisboa, 1905). Ampliando muito algumas contribuições anteriores dos alemães Link e Willkom e de Júlio Henriques, lente de Botânica da Universidade de Coimbra, Daveau acabou por dar corpo aos primeiros fundamentos da geografia da vegetação portuguesa em estudos que continuam de actualidade.
Quando se retirou em 1892, o Conselho da Escola Politécnica aprovou por unanimidade um voto de sentimento, pela partida de um funcionário que considerava exemplar, e outro de louvor pela sua permanente dedicação. O seu labor seria ainda reconhecido pelo Governo português com a mercê de uma Comenda da Ordem de Cristo e outra de Santiago. Em 1893, instalou-se em Montpellier na qualidade de Jardineiro-chefe do Jardim Botânico da Universidade, passando posteriormente a Conservador do mesmo, dedicando-se à organização dos seus herbários. A 24 de Agosto de 1929, faleceu nessa cidade aos 77 anos de idade, depois de perto de cinquenta anos dedicados aos estudos botânicos.


Lápide comemorativa a Jules Daveau (Jardim Botânico - MUHNAC)


Para saber mais:
Palhinha, Rui Teles, ’Jules Daveau’, Boletim da Sociedade Broteriana, 2ª série, Vol. 6 (1929-1930), VIII-XII.
Ribeiro, Orlando, 'Jules Daveau', Diário de Notícias (8 de Julho de 1980).
Tavares, Carlos Neves, Jardim Botânico da Faculdade de Ciência de Lisboa, Porto, Imprensa Portuguesa, 1967