terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os musgos as hepáticas e os antóceros no Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC)


Os briófitos (musgos as hepáticas e os antóceros) são plantas terrestres não vasculares, muito pouco diferenciadas quanto ao tipo de organização. O seu crescimento e reprodução sexuada dependem profundamente da disponibilidade de água e este fator é sempre o mais limitante. Embora estas plantas tenham adquirido adaptações a uma grande diversidade de condições ambientais, moldaram-se quer no aspeto morfológico, ecofisiológico quer no tipo de dispersão. Muitas espécies estão adaptadas às condições climáticas relativamente estáveis como as encontradas no interior das florestas, sendo no entanto, extremamente sensíveis a alterações dessa mesma estabilidade.


Parque Nacional da Peneda-Gerês, local de excelência para as comunidades de briófitos em Portugal

Desempenham um papel muito importante nos ecossistemas, são considerados bons indicadores da qualidade dos habitats e da sua funcionalidade ecológica, criam condições para a acumulação de húmus, estabilização dos solos, para a fixação e germinação de sementes, servindo de alimento e proteção para diversas espécies de animais. Têm também um papel considerável na acumulação de biomassa, na reciclagem dos nutrientes e no ciclo da água. Nos dias de precipitação ou nevoeiro funcionam como “esponjas”, facilitando um escoamento mais suave da água até ao solo, impedindo a formação de turbilhões até às linhas de água, contendo por isso a erosão. Armazenam assim, grandes quantidades de água que são fundamentais para a manutenção do equilíbrio hídrico, por exemplo no interior de uma floresta. Foi observado que inúmeros fatores ambientais tinham efeito na distribuição das comunidades. Quando existe um fogo as primeiras espécies a surgir são briófitos nomeadamente Funaria higrometrica Hedw. ex Guim e Ceratodon purpureus (Hedw.) Brid., além de diversas espécies de líquenes criando condições para o solo ser estabilizado e as sementes das plantas vasculares não serem arrastadas pelos turbilhões de água, fixarem-se e posteriormente germinarem, funcionando como a experiência que os alunos no primeiro ciclo elaboram frequentemente usando feijões e algodão.


Funaria higrometrica Hedw. ex Guim num solo queimado no Parque Natural da Serra da Estrela a 1500 m de altitude.


Funaria higrometrica Hedw. ex Guim e os seus esporos que rapidamente colonizam o solo após os incêndios criando condições para o aparecimento de outras espécies. É muito importante pois contribui para evitar a perda do solo que demora milhares de anos a ser formado.

Estas plantas são ainda considerados excelentes indicadores da qualidade ambiental, existindo espécies muito sensíveis e outras tolerantes, sendo por isso frequentemente utilizados nos estudos de monitorização ambiental nas grandes cidades e em grandes complexos industriais. O MUHNAC desenvolve trabalhos desde os anos 70 em diferentes regiões do país utilizando estes organismos, destacando-se a região de Sines, Abrantes e principalmente em Lisboa, na margem Norte, Sul e na região envolvente a Central de Tratamento e Resíduos Sólidos de São João da Talha (CTRSU). Existe assim uma base de dados acerca da evolução dos padrões de distribuição destas espécies ao longo dos ano, estando os espécimes no herbário (LISU) da instituição, podendo ser utilizados par outros estudos como a evolução de metais pesado etc. É interessante verificar que espécimes colhidos em Lisboa no século XIX por Friedrich Welwitsch (1806-1872) entre outros botânicos, e guardadas no herbário da instituição têm características distintas das que são hoje colhidas nos mesmos locais o que indica uma degradação da qualidade do ar entre os dois períodos. Esta característica tem a ver com a sexualidade, onde a reprodução sexuada é substituída pela reprodução assexuada, com formação de propágulos onde a espécie pode sobreviver em condições longe do ótimo ecológico. No entanto, há outras muito sensíveis que desaparecem ao mínimo de perturbação e nem se reproduzem assexuadamente.
Existem cerca de 720 espécies em Portugal e muitas delas estão ameaçadas de extinção como vem referido no Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal que foi desenvolvido pela instituição e com a colaboração de outras entidades, encontrando-se em fase de publicação.
O Jardim Botânico do MUHNAC no centro da cidade de Lisboa é um refúgio para muitas espécies existindo muitos taxa que na cidade de Lisboa são só conhecidos no local. Apresenta uma diversidade de habitats e estabilidade ecológica que permite o aparecimento de espécies consideradas sensíveis existindo normalmente em florestas com continuidade ecológica.

Seguidamente apresentam-se algumas espécies que podem ser encontradas neste local especial no centro da cidade de Lisboa:

Musgos


 Dicranoweisia cirrata (Hedw.) Lindb. sobre uma palmeira




Dicranoweisia cirrata (Hedw.) Lindb.




Syntrichia laevipila Brid.




Leptodon smithii (Hedw.) F. Weber & D. Mohr


Fabronia pusilla Raddi 



Orthotrichum diaphanum Schrad. ex Brid.


Orthotrichum tenellum Bruch ex Brid. 

Hepáticas


  •                      Petalophyllum ralfsii (Wilson) Nees & Gottsche a crescer espontaneamente no Jardim Botânico.
Espécie no Anexo II da Diretiva dos Habitats. Espécime do Jardim no Arkive.




Conocephalum conicum (L.) Underw.



Frullania dilatata (L.) Dumort.






Lunularia cruciata (L.) Dumort. ex Lindb.



Metzgeria furcata (L.) Corda


Radula lindbergiana Gottsche ex C. Hartm.

Antóceros




Phaeoceros laevis (L.) Prosk.

Créditos das fotos e vídeo:
César Garcia (cgarcia@museus.ul.pt) - MUHNAC